Weekend reads #63
A ciência avança um funeral por vez, ter um modelo ruim é melhor do que não ter um modelo, os 4 pilares de VC e o dilema dos investidores, o papel dos grandes VCs como market makers e mais.
#1 - One Funeral at a Time - MD&A
Não importa as dezenas de qualificações que alguém pode ter, geralmente vamos acabar acreditando em algo extremamente estupido e sem sentido. Pior, muitas vezes vamos nos agarrar a essas crenças contrariando todas as evidências de que estamos errados. Isso acontece em todos os campos de estudo e profissionais, mas também nas nossas vidas pessoais. Thomas Khun, um estudioso do progresso científico definiu sua teoria das revoluções científicas em uma lógica de paradigmas. Paradigmas são grandes teorias gerais e regras aceitas amplamente em um dado período que são base para o entendimento de mundo e demais explicações de como ele funciona. Por exemplo, na época de Aristóteles, o paradigma sobre o universo era o de que a Terra era o centro do mundo, e as explicações sobre fenômenos como as fases da lua, movimento de astros e outras coisas mais eram construídas a partir disso. Por mais que o paradigma esteja incorreto há uma consistência lógica nas explicações derivadas dele, e até poder explicativo. Há infinitas correlações que podem ser descritas como causalidade, e pelo menos uma pode se encaixar em qualquer paradigma. Revoluções científicas de fato só podem então ocorrer quando há uma mudança de paradigma. A Teoria da evolução de Darwin, dos germes, teoria da relatividade entre tantas outras não mudaram somente o entendimento sobre um fenômeno específico, mas sobre todo um corpo de regras e explicações. Essas revoluções não surgem e se difundem de maneira automática ou simples. Mesmo no mundo científico o apego ao paradigma atual é por muitas vezes maior do que a racionalidade e capacidade de se atualizar as visões sobre a realidade. É descobrir que o mundo que você vive é outro. Muitos dos pesquisadores que descobriram e teorizaram novos paradigmas não viveram para ver suas descobertas se tornarem difundidas e aceitas pelas suas áreas de pesquisa. E não é só no meio acadêmico ou profissional que isso ocorre. Vemos no dia a dia pessoas muitas vezes desinteressadas acreditando em todo tipo de bobagem. Seja a crença de que vacinas são perigosas, de que homeopatia é algo além de efeito placebo ou de que a oferta e demanda é uma conspiração dos capitalistas os paradigmas muitas vezes nunca serão totalmente aceitos. Muito das crenças são desenvolvidas a partir de heurísticas derivadas das experiências pessoais das pessoas (ou pior, de experiências pessoais de outras pessoas). Experiências pessoas sofrem de todo o tipo de problema, desde ignorância sobre o o real funcionamento das coisas até anomalias estatísticas. Muitas pessoas acreditam que prédios subindo em seus bairros significam que o preço das moradias irão aumentar. Isso é o mesmo que acreditar que hospitais são perigosos porque ali as taxas de mortalidade são maiores do que na esquina da rua vizinha. É fácil confundir a direção da causalidade quando o paradigma é desconhecido. Nas mudanças pelas quais a humanidade passou muitas vezes foi necessário que uma nova geração de indivíduos, livres de crenças pré estabelecidas ou amarras institucionais e de ego, passasse a adotar o novo paradigma e o óbvio avanço que ele representava em relação ao status quo. Muitas vezes as evidências contrárias até deixam os seus críticos mais certos de suas certezas. Como disse Max Planck, "science moves forward one funeral at a time".
Perhaps the best approach is to view this pattern optimistically. It is almost certain that many of the most stubborn problems in our own organizations or in our own lives must have solutions that are lying in plain sight, just waiting to be adopted. It is up to us to figure out how to adjust our mental framework to be able to reach out and grab them.
#2 - Always Start with a Model - Capital Gains
Todos os modelos são errados, mas alguns são úteis. Mas porque alguns são úteis? Um modelo é desenvolvido para tentar explicar uma parte ou fenômeno específico dentro de um sistema complexo. Tentar explicar o sistema inteiro de maneira fidedigna é impossível, então premissas são estabelecidas que limitam a aplicação do modelo e simplificam o processo explanatório. Quando ele falha você pode voltar para as premissas e entender o porque ele falhou, se elas não explicam, então o modelo está errado. Esse mecanismo de abstração e simplificação da realidade permite que alguns processos sejam isolados e entendidos, eliminando processos acessórios ou que não se aplicam a maioria dos casos. Essa lógica não é útil apenas para se aprender sobre um assunto, como a economia, mas também para se analisar os fatores críticos de um resultado e o processo que o cria. Mas modelos também sofrem com as mudanças na estrutura do sistema. Não é porque ele funciona hoje que continuará funcionando amanhã. As regras do jogo podem mudar, ou até mesmo uma versão melhor dele pode surgir. Estamos sempre mudando as descrições das coisas. A TV foi inicialmente vendida como o rádio onde você poderia ver as expressões dos apresentadores, hoje ela é algo bastante diferente. Um modelo é também útil porque ele permite que uma ação seja tomada baseada nele. Uma nova politica economia, um novo produto ou linha de pesquisa. A simplificação elimina a inércia causada pela complexidade da realidade. Isso significa que você chegará na resposta mais rápido, mesmo que ela mostre que você estava errado.
Instead, the real game is to find some instance of bounded rationality where people persistently following their incentives will be led in a predictably wrong direction. And the reason that's the case that needs to be made is that the economy is incredibly complex, and abounds with local knowledge that isn't available to outsiders. Think hard about any business, make a list of everything they do that doesn't make sense, and there's a good chance that what you've inadvertently done is made a list of everything the company does that only makes sense to experts.
#3 - The Four Pillars of Venture Investing - Investing 101
A atividade principal de venture capital pode ser dividida em 4 pilares: encontrar, decidir, investir e apoiar. Ser excepcional nelas pode parecer o caminho para ser um investidor excepcional. Mas como todo trabalho ser excepcional em todas as partes que o compõe é virtualmente impossível. Há um trade off envolvido entre essas atividades. Isso não quer dizer que não seja possível encontrar um nível ótimo para cada uma delas que funcione para o seu modelo, mas será preciso escolher nesse modelo quais os seus pontos fortes. Encontrar é a primeira parte, e muitos investidores gastam a maior parte do tempo aqui. Você pode olhar essa atividade do ponto de vista qualitativo ou quantitativo. Mas a história que mais se conta leva a maior parte a se concentrar em encontrar o maior número de startups possível, já que em teoria você só vai poder descobrir o qualitativo mais para frente. Não há nada pior para um VC do que não saber sobre uma nova startup que está sendo comentada por um par seu em uma conversa de bar. Toda a lógica de concentração de retornos em poucos investimentos do portfólio também aumenta a pressão para que se tenha uma visão completa sobre o ecossistema. Encontrados os potenciais leads, agora é hora de decidir sobre o investimento. Ser um excelente investidor demanda atenção, foco, diligência e tempo. Muitas vezes coisas que atrapalham o andamento do relacionamento com a startup e os fundadores, outros investidores e pessoas envolvidas com uma rodada. Ser muito exigente pode te dar a fama de ser um investidor difícil, o que pode diminuir a vontade da startup de ser investida e também dificultar a atividade de encontrar novos leads. Ao mesmo tempo, idealmente, você não vai querer investir em qualquer coisa que pareça interessante. Investir é uma atividade separada porque ela depende da empresa e fundadores aceitarem sua decisão de investimento. Essa decisão de aceitar vai avaliar muita coisa além do dinheiro. Em um mundo regido por FOMO e movimentos de manada cada vez mais você encontrará oportunidades onde ou ninguém quer investir ou todos querem investir. Se todos querem, o que além do dinheiro você oferece que o diferencia positivamente em relação às outras opções da startup? Não ser um babaca é um bom primeiro passo, mas ser um bom sócio vai além de ser uma pessoa interessante de se tomar uma cerveja em um happy hour. É preciso mostrar que o seu dinheiro traz valor além do monetário, por exemplo, demonstrando ser relevante para que a empresa tenha um potencial maior do que recebendo ele de outro investidor. Ao mesmo tempo que há essa expectativa de apoio é importante também demonstrar que você vai sair do caminho quando for o caso, sem microgerenciamento ou interferências desnecessárias no caminho de crescimento da empresa. A fase de apoio é onde vocês passarão a maior parte do tempo, e muitas vezes o melhor apoio é o silêncio. A maior parte dos VCs não tem conhecimento teórico ou prático para atuar como gestor do negócio, e boa parte desses mais atrapalham do que ajudam. A ideia aqui não é ser passivo. Muitas vezes decisões difíceis deverão ser impostas à investida para proteção dos investidores e para correção de curso. Nem sempre essas decisões serão bem recebidas pelo clube de empreendedores e potenciais novas investidas, mas elas terão sido as decisões certas. Os trade offs entre essas atividades ficam claros quando as responsabilidades de cada um deles e suas consequências são apresentadas de maneira prática.
You likely can't be the best in the world at Finding, Picking, Winning, AND Supporting. But you won't survive if you're not at least passable at some of them, and you won't succeed in the long-run if you're not exceptional in at least 2-3 of them. That's the Funder's Dilemma.
Here's why I started this piece talking about trade-offs. I've always loved a talk by Neal Maxwell where he gave me one of the great lines I use a lot:
"You had better want the consequences of what you want."
#4 - Making Markets in Time - Pivotal
O tema de modelo de negócio de Venture Capital é recorrente por aqui, muito devido a evolução acelerada da indústria. O que começou como um modelo artesanal de investimento de recursos próprios se tornou uma indústria de gestão de recursos com diferentes players e estratégias. Os grandes nomes do mercado comandam não só vastos recursos, mas também os temas e atenção de maneira ampla. 50% dos recursos captados em 2024 foram para apenas 9 gestoras, mostrando uma concentração que pode parecer absurda. Mas essas gestoras não são mais investidores de VC tradicionais, mas algo mais parecido com formadores de mercado. Elas saíram do game de tentar encontrar os investimentos que retornarão 100x e agora se assemelham mais a agregadores do mercado que fornecem retorno através de exposição a classe de VC, um tipo de beta do setor. Conforme foram crescendo suas teses foram se ampliando, seja setoriais ou de estágio. Muito da discussão de preço e termos de rodadas ficou no passado com a importância de deals individuais se tornando cada vez menor. Para grandes alocadores como endowments e fundos de pensão é muito mais simples escrever um único cheque de 20 milhões do que 20 cheques de 1 milhão. Isso não necessariamente é um problema. A classe de VC se formou como um mecanismo de financiamento que cobriria uma empresa de sua fundação até o IPO. Para que isso fosse possível foi necessário tornar o funcionamento desse modelo mais legível, tanto para insiders quanto outsiders. Estamos falando de uma arbitragem de tempo, com alto grau de incerteza e percentual de fracasso. Nesse sentido foram definidos através de prática e teoria estágios e parâmetros para cada estágio que permitissem que diferentes players entendessem o momento de uma startup. Essa padronização permitiu que volumes cada vez maiores fossem alocados na classe, com o nível de risco e retorno de cada estágio mais claros. As grandes firmas hoje investem praticamente no mercado todo, e garantem exposição ampla ao setor. Ainda existe espaço para especialistas, mas muito do poder gravitacional dos grandes e sua lógica mudam a abordagem necessária para que outros players consigam operar no mercado. Algo positivo é que a fome insaciável por deals dos grandes pode ajudar nas saídas, especialmente no early stage.
This is market-maker behaviour. Market-makers don’t care (much) about intrinsic value; they care about matching supply and demand. Supply here is founders; demand is (ultimately) public market investors; temporal arbitrage aka multi-stage venture financing enables this large gap to be bridged; and the market-makers take their cut.
#5 - Stuff you should have been taught in college but weren’t - Casey Handmer
Uma das diferenças da vida de estudante e da vida profissional é que na vida de estudante existe uma maneira simples de mensurar seu desempenho: notas. Na vida profissional muitas vezes os mensuradores de desempenho são mais complexos, cheios de dependências ou muitas vezes puramente subjetivos. Com o tempo lições vão sendo aprendidas sobre como não só gerar valor para seu empregador e/ou chefe, mas também como mostrar esse valor que foi gerado. Isso é parte do desenvolvimento de habilidades não técnicas e do ganho de experiência que só o aprendizado prático traz. Alguns desses aprendizados podem parecer idiotas ou contraproducentes. Por exemplo, saber jogar o jogo político que qualquer organização tem. Pode parecer perda de tempo ou como algo que não deveria existir, mas a realidade é que as relações interpessoais dentro de uma empresa são essenciais para o seu funcionamento, seja ele bom ou ruim. Entender os incentivos de cada parte do todo é um bom caminho para se entender também os resultados esperados e como se posicionar.
The first gig out of school is the first rung of the ladder. Whatever you do, it’s critical to make that first line item of your resume strong enough to get to the second. If you learn, grow, and build in your early 20s, then you’ll be pulling in a great salary by the time you’re 30 and have a technical foundation upon which to build a work-life balance for the rest of your life. If you screw around for years and don’t develop tangible evidence (the sort of thing that a recruiter can use to convince a hiring manager that you’re the real deal!) that you can succeed on projects in the real world, you are much more likely to fall out the back of the industry, and enjoy work-life balance during long periods of unemployment.
#6 - How to Achieve Immortality - The Honest Broker
Os donos de grandes patrimônios ao longo da história sempre buscaram a imortalidade, de um jeito ou de outro. A moda atual é a de buscar a imortalidade de maneira literal, como algo de um filme de terror, envolvendo transfusões de sangue, drogas e procedimentos experimentais etc. Antigamente existiam algumas maneiras diferentes e mais interessantes de se buscar a imortalidade. Boas ações são lembradas, muitas vezes não só pelos seus beneficiários diretos. Grandes obras de arte eternizaram não só seus autores, mas também as pessoas que as inspiraram ou até mesmo financiaram, como os Médici ou Andrew Carnegie. O modelo narcisista de busca pela imortalidade através dos casos mais extremos de individualismo mostram o vazio que impera na mente dessas pessoas, um reflexo direto de suas criações e negócios.
So it’s ironic that the people who promote this vapidity are seeking immortality for themselves. I doubt they will find it. But they do have good reason to fear transience and oblivion—because that’s what they’ve staked their whole careers on.
📈 - Gráfico do ano?
Relação de CAPEX vs Receita da Amazon, Microsoft e Apple ao longo do tempo.
Bom final de semana!